segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Giz

No branco cabe tudo
Cabe silêncio e
Cabem palavras
O branco das nuvens e luas
Branco de séculos e
alvas luzes
O branco abriga o horizonte
e o alpendre
Abriga as horas
e a insônia
No branco entorno de olhares
Passeiam peixes, aves, aventais
Deslizam sedas e lençóis
O branco outubro de cal e parede rachada
O branco de rosas
e lírios
Branco de espaços
e manhãs
Destina o velho
Imemorável, desnudo e puro
No branco, página infértil
Cabem rendas, respingos
E pouco suor
O branco de alameda deserta
O branco de prata
e espuma
De laços chumaços
e algodão
De galho seco enfim,
de tarde estalando
No branco de areia
Pegadas, conchas e pequenos seixos
Branco de ausências
De fundo de tela e véu
O branco alvura de anil alvejante
Luz de sol porém
Algum meio-dia
Vida em branco
Branco de paisagem nenhuma
de velas apagadas, estéreis
No branco o abrigo de rancores
Saudades, partidas e vagas
Abrigo de notas, de acordes
Olhos fechados, contas mal feitas
O branco do eco dos passos
Na noite da rua deserta
Medo estampado e branco
O salto e o solo: manhã. Tudo é ainda recente e branco
Caberiam livros, talvez
Talvez pássaros
...O nascer de homens e de pássaros é branco...
O branco é a porta
Da gaiola
Aberta
ao
nada

(Liu)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

foto: Mery Lemos

Escuro

Piso na areia
Com a bexiga cheia
Não há postes na aldeia

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

foto: Mery Lemos


sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Oriente

Os números diziam coisas óbvias que ela
Contudo não compreendia
O tempo e a direção das coisas eram um mistério
Não sabia de que lado vinha o vento, por não saber de que lado vinha o sol
Nas pernas de louça uma força de macho
Nas costas envergadas um peso
suportável
No silêncio que trazia consigo: todas as palavras do mundo
E o mundo
Este
Não era possível descrever

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

foto: mery Lemos

Dias

Em estado de céu
-pleno de lágrimas suspensas
Ela sonda o verso
-esquivo e fraco.
Filtra o tempo entre fronhas azuis
e olha solene a flor que pendula
no arco de secos galhos

sábado, 11 de outubro de 2008

foto: Mery Lemos






sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Deserto

... nesses dias áridos
Eu
cíclica
somente espero
-E o tempo implacável sorri...
foto: Mery Lemos

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Nunca oca

E só agora as coisas tomam forma de ostras e bumerangues, são prematuras e tardias, são de se arrepender e se orgulhar, são minha cara e careta, são “serás”.
foto: Ezter Liu



quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Dentes Sensíveis

O amor
é o umbu
mais verde que já chupei