segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Giz

No branco cabe tudo
Cabe silêncio e
Cabem palavras
O branco das nuvens e luas
Branco de séculos e
alvas luzes
O branco abriga o horizonte
e o alpendre
Abriga as horas
e a insônia
No branco entorno de olhares
Passeiam peixes, aves, aventais
Deslizam sedas e lençóis
O branco outubro de cal e parede rachada
O branco de rosas
e lírios
Branco de espaços
e manhãs
Destina o velho
Imemorável, desnudo e puro
No branco, página infértil
Cabem rendas, respingos
E pouco suor
O branco de alameda deserta
O branco de prata
e espuma
De laços chumaços
e algodão
De galho seco enfim,
de tarde estalando
No branco de areia
Pegadas, conchas e pequenos seixos
Branco de ausências
De fundo de tela e véu
O branco alvura de anil alvejante
Luz de sol porém
Algum meio-dia
Vida em branco
Branco de paisagem nenhuma
de velas apagadas, estéreis
No branco o abrigo de rancores
Saudades, partidas e vagas
Abrigo de notas, de acordes
Olhos fechados, contas mal feitas
O branco do eco dos passos
Na noite da rua deserta
Medo estampado e branco
O salto e o solo: manhã. Tudo é ainda recente e branco
Caberiam livros, talvez
Talvez pássaros
...O nascer de homens e de pássaros é branco...
O branco é a porta
Da gaiola
Aberta
ao
nada

(Liu)